Poesificando: Desconhecido ante a mim, assim ele surgiu
Levi Guzman/ Unsplash

O desconhecido surgiu pra mim

Nasce o dia, e a invasão do Sol vem despertar;
Um quinto, do quarto, aquece o meio da cama,
Devido a sua intensidade, me ardem os olhos;
Tempo onde pulsa a paisagem em convocação.

A vida é poesia, sob a qual minha alma destila.
Poesia é sentir, é contentamento descontente,
Que recorda a profundidade nos sentimentos,
Oscilação de escala 7.0, de alegrias e tristezas.

Erguido sou pelo frescor do vento que soprou,
Quando assopra, carrega algo que gela a alma,
‘Inda assim essencial ao impulso de meu pesar.
Diante do espelho estaciono, me vejo assunto,

Me assusta desconhecer semblante ante a mim.
Face a brilhar revela o registro de dias que vão,
Revelando o quanto desconheço a mim mesmo.
Pensei me conhecer, hoje estou certo não saber.

De frente pro espelho
Fares Hamouche/ Unsplash

Desconheço o ser que em enigma é revelado ali.
Alguém me conheceu quando nem eu consegui?
A noção que pensei ter de mim se mostra longe.
Mão no peito, circula fenda que sob os dedos dói.

Maior não foi o dano, por racional ser o coração.
A hollowficação te é a necessária pro caminhar?
Escorre o restante do que um dia significou vida.
Olhando ao redor, pessoas diversas, me cercam,

Família, parentes, amigos, até os desconhecidos,
Ainda assim a solidão vem me soprar na mente:
O mar que refresca no calor, é o mesmo que ilha.
Torço pras memórias, que seguem e perseguem,

A repetir não existência, serem sopradas daqui.
Na imensidão onde me lanço, vago sem direção,
Mergulho em sua beleza, enquanto se vão dias,
Escorrendo entre os dedos, escapam das mãos.

Antes de dormir fico pensando
nrd/ Unsplash

No fim é dia, me ponho a contemplar vastidão,
Vejo o escuro da noite estelar que me aguarda,
Única a me aceitar do jeito que não sei em ser,
Afinal, qual a forma certa? Ainda não descobri.

Assopro o vapor da caneca de leite nas mãos,
Em minha frente a sombra a repete esse gesto.
Um arrepio dispara, e levanta pelos no corpo,
Talvez de espanto ou pelo vento calor a furtar.

Entre dúvidas e incertezas desloco as cortinas,
Insistente, um agito concede vida aos tecidos,
Existência rascunhada pelo vapor que soprei.
Então, a fumaça e o tecido são empurrados;

O vento pressiona a fragilidade na bairreira,
Sem resistência alguma elas o cedem acesso,
Durante a sua invasão o reflexo se movimenta,
E me perco no esplendor celeste em seu olhar.


#papolivre

O que leva a mudança não é a argumentação, e a insistência nessa etapa pode até fazer a gente se agarrar com força maior às nossas crenças internas, que podem ser boas ou ruins e até nos limitar, ao distorcer as coisas, como relata o artigo “O espelho nos outros“, já que envolve como enxergamos a nós e o mundo – daí a importância do autoconhecimento que gera evolução, abordada no artigo “A maturidade que os anos não trazem“. E a coisa piora quando se trata de crenças centrais, conceitos tão internalizados, que sua existência passa despercebida, apesar de se tornarem parte de quem somos, guiando nossa personalidade a ponto de parecer que renunciá-los resultará na perda de nossa identidade.

A sabedoria pop afirma que ninguém convence outra pessoa de qualquer coisa que seja – a não ser quando isso convém. Quanto mais um argumento provar os pontos fracos da crença alheia, ainda que estruturado na lógica, essa imposição fará o outro entrar no modo defesa e se agarrar com mais convicção ao que acredita, lembra Dale Carnegie em “Como fazer amigos e influenciar pessoas” (“How to win friends and influence people“, de 1936), já o escritor Louis L’Amour afirmou que isso faz as pessoas criarem “novos motivos pra manter antigas posições e se tornarem mais defensivas”.

Crenças estão acima da lógica, por isso nos agarramos a elas mesmo sem fazer sentido algum – como tentar manter uma bagagem quando o barco está prestes a afundar, algo ocorrido em “Abisso – Quando o pavor agita as águas“. O processo de mudança acontece quando nos convencemos, encontrando razões pra isso, assim, indagar é mais eficaz que expor argumentos. Esse processo de questionamento é o que move a ciência, bem como a psicologia e a psicanálise que buscam mudar a forma de pensar ao guiar com perguntas que nos possibilitam encontrar as respostas em nós.

Assim, toda transformação começa com um ato de refletir. Quando estamos receptivos a isso, a contemplação surge de forma espontânea: uma olhada no espelho – a revelar marcas impressas pelo tempo ou vaidade, estilo ou a falta de tudo isso – basta pra trazer a tona percepções sobre o quanto a gente mudou e precisa se tornar, porque a transformação de quem somos começa quando alteramos a mentalidade [Romanos 12.2].

Todo esse processo de transformação tem muito a ver com arrependimento, apesar da forma usual vir do latim repoenitere, re-, usado pra intensificar, mais poenitere, significando “sentir contrição ou mágoa por uma má ação”, seu uso original tem a ver com metanoia, do grego metanoein, metá, “além, depois”, e nous, “pensamento, intelecto”; trazendo o conceito de mudar a mente com intencionalidade; pra obtermos uma transformação completa de pensamento, atitudes e comportamento, até de direção, caráter e temperamento, nos levando a uma evolução constante de forma permanente. No hebraico, as palavras usadas pra arrependimento são nachum, “entristecer-se”, e o termo shuwb, “voltar-se, mudar de rumo ou direção”, indicando que a ação envolve sentimento, mas também mudança de rota. Além disso, a atitude serve pra definir a individualização da nossa psique, operando cura de forma inconsciente, ao nos transformar total, conforme apontou Jung.

Essas metamorfoses têm muito a ver em como nos sentimos, envolvendo nossas experiências, sentimentos e emoções; por isso, o convencimento é um processo interno, que tem mais a ver com seu conceito grego elegchō, que envolve constranger, ao incluir sentidos e razão pra nos levar ao resultado que algo precisa mudar [João 16.8], e a gente passar a sofrer uma alteração; impelidos à rota e atitudes a serem tomadas. Por esse processo interno envolver experiências, é preciso atentar pro que vemos e ouvimos, pois esses estímulos alimentam a alma e o intelecto – despertando sensações que podem nos convencer a aceitar o engano, como alerta o poema “A ilusão que acreditei ser liberdade” – como as saídas da vida procedem da mente, é preciso a protegermos [Provérbios 4.23], de influências invasoras que tentam se infiltrar em nossos pensamentos.

No fim, pode ser que a percepção adquirida nos faça ver que o eu de agora tem nada a ver com o esperado, mas mudanças possuem a capacidade de nos impulsionar pra frente, mesmo quando acontecem desvios de rota. Então o jeito é colher o melhor de onde estamos, a partir daí, traçar novos rumos e metas até alcançar uma estatura de excelência [Efésios 4.13-15].

Ósculos e amplexos,

Mishael Mendes Assinatura
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