Poesificando: O torpor que debruçado senti
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O torpor que debruçado senti

Sobre a mesa me debruço pra ver
Que distante mais um dia se foi,
O que restou foi apenas torpor.

A lucidez que se achega sufoca
Trazendo sofrimento e amargor.
Sobrevivendo como não deveria

Reduzo a entulho, fragmentos
Imensa quantidade de tempo.
Reflexão impulsiona a viver,

Mas suficiente não é a carga
Pras sinapses poder atingir.
O que não sonha morto está,

Mas será que consegue sonhar
Quem já morreu ou de sonho
Morre aquele que não viveu?

Seria a composição desta vida
Feita de infindas indagações
Ou por ausência de respostas

Que nos negamos a enxergar?
Meus olhos buscam beleza
Que me impossibilita viver,

Mas sigo, triste, numa alegria
Quase sempre a desvanecer.
Ainda a contemplar a tarde

Foi embora pra sempre
Carlos Arthur M.R/ Unsplash

Que se foi sem mais retornar,
Vi, despontar no azul-celeste,
Manhã [des]esperança trazer.

Da janela se aproxima aurora,
Tão perto que a posso tocar,
Através das cortinas ela chega

Assustado, tento me afastar,
Mas, surdos, os pés engessam.
Sob eles o assoalho dissolve,

Cabeça nas estrelas, pura luz
Tanto brilho chega a asfixiar,
Cego, luz alguma posso ver.

Cada brilho pela senda achado
Só serviu de tropeço, escuridão
Antes podia ver, agora não mais.

A síntese da vida só se refere a
Isso ou não pode ser sintetizada?
Se enquanto duvido é que penso

Por que me esvaziam as dúvidas?
Seria sempre árdua a resposta,
Não habitaria ela a simplicidade?

Contemplando a finitude
Kiət Hí/ Unsplash

Contemplando a finitude se percebe
Que o mais além daquilo que existe,
O constante indagar, a desconfiança,

A relatividade presente tem a ver
Com perda e desgaste de tempo
Que permitir a plenitude vivenciar.

Singeleza traz maior alento na dor
Que o acúmulo de conhecimento
A resultar em agudeza de angústia.

Por que saber o modo que viverei?
Já me basta a fragilidade do ser,
Ingratidão que se revela no olhar.

Torpor, forma de encarar a vida
Sem dor é mentira, puro engano.
Torpor não é saída ou resposta

É apatia, amputa a percepção
Impedindo de se experienciar
Cada dor, conquista e sucesso.


#papolivre

Os caminhos percorridos podem nos levar a diferentes percepções resultando nos efeitos mais profundos, mas o prazer experimentado não significa que as escolhas realizadas sejam benéficas [Provérbios 14.12]. A fuga da realidade – seja ela qual for – pode até seduzir e trazer alívio, porém, a medida que vira rotina o paraíso se transforma em cárcere, aprisionando em suas dependências a liberdade. O escape se torna gatilho do torpor que anula vontades e dificulta a conversão dos passos através do arrependimento.

Ósculos e amplexos,

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